Show do Machine Head no Rio de Janeiro foi tão potente quanto um motor V8 turbinado

Um combustível de alta octanagem é aquele que consegue liberar a potência do motor ao máximo. Pois bem, não se pode negar que o Machine Head é uma banda de alta octanagem. O quarteto norte-americano liderado por Robb Flynn (vocal/guitarra) subiu ao palco do Circo Voador no último sábado (28/10) com sua turnê An Evening With Machine Head, após oito anos longe do Brasil, e o que se viu foi uma potência invejável.

Tanto é verdade, que o mosh começou antes mesmo do primeiro riff. Quando o relógio se aproximava das 21h e Robb apareceu tocando as primeiras notas dedilhadas de Imperium, do clássico álbum Through the Ashes of Empires (2003), o apressado público sequer esperou a música explodir para formar uma imensa roda na pista do Circo Voador.

E essa foi a tônica durante as impressionantes 2h30 de show: enquanto o motor roncava com petardos de todas as fases da carreira da banda, como Choke on the Ashes of Your Hate, Now We Die, Is There Anybody Out There, Aesthetics of Hate, From This Day e Davidian, a energia emanada do palco era reproduzida pelo público, de forma tão intensa que quase podia ser tocada no ar.

Todavia, nem só de mosh vive o headbanger. O som do Machine Head é um thrash/groove metal robusto, como um Opalão cromado e cheio de cerveja no porta-malas, mas também possui um elemento melódico marcante e temas líricos que favorecem uma conexão profunda com o indivíduo. A mistura de ingredientes criada pela banda é o combustível perfeito: a plateia não se cansava de expurgar seus demônios a plenos pulmões com as tocantes melodias de Unhallowed, Locust, Halo, Darkness Within.

Essa última, inclusive, proporcionou um dos momentos mais bonitos da noite: antes da execução da música, um discurso sobre depressão e o poder da música, em que o vocalista é ovacionado ao pedir para os fãs guardarem os celulares e sentirem a experiência. Após a execução, um coro do público toma conta do Circo Voador até o início da música seguinte, que, por sua vez, não poderia ter um título mais apropriado para a ocasião: Catharsis (catarse).

Por sinal, apesar da competência dos músicos Jared MacEachern (baixo), Waclaw Kieltyka (guitarra) e Matt Alstom (bateria), é impossível não frisar: o Machine Head é a banda de Robb Flynn e ele é a estrela do show. Sempre muito expressivo e enérgico, o vocalista interage, brinca com a plateia, joga copos de cerveja e sabe que tem o público na mão. No momento mais descontraído do show, Robb pergunta qual cover os fãs querem ouvir e toca um trecho de All the Small Things (Blink-182) antes de iniciar o verdadeiro cover da noite, Seasons in the Abyss (Slayer).

É notório que o Machine Head passou por tempos turbulentos, enfrentando críticas e trocas na formação, no entanto a banda sacudiu a poeira, emplacou um dos melhores discos de 2022 (Of Kingdom and Crown) e, agora, entrega uma turnê recheada de clássicos para fã nenhum botar defeito, onde nem mesmo algumas falhas do equipamento de som foram capazes de diminuir a histeria coletiva. Afinal, essa é outra característica dos combustíveis de alta octanagem: a resistência à pressão.

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