Sem patifaria e inconstância, Marillion ainda é o nome que carrega a tradição e a tocha do rock progressivo inglês

É praticamente impossível estar vivo, perambulando pelo planeta Terra nos últimos quarenta anos, e não ter esbarrado com algum som do Marillion, mesmo que tenha sido por acidente e sem querer. Um vizinho, tio, amigo ou alma caridosa colocou Kayleigh, Lavender, Easter ou Beautiful no player, sintonizou na FM certa e fez a boa ação do dia ao iluminar a vida de quem conseguiu ouvir o som.

A banda iniciou os trabalhos no finalzinho da década de 1970, fazendo o famigerado e necessário circuito de pubs londrinos, clubes que a maioria das pratas da casa fizeram, com isso, a turma deu as caras no icônico Marquee Club, entre outros estabelecimentos.

Em pouco tempo de labuta na cena musical, o grupo alcançou notável nome no mercado e público cativo, assim colocou na praça o debute Script for a Jester’s Tear, em 1983. O som do quinteto era incomum e único, apesar de alguns jornalistas e parte do público cismarem em taxá-los como uma mera alquimia entre os prestigiados Pink Floyd e Genesis.

Embora fosse comumente posicionado na seara do rock progressivo, a arte do Marillion era inclassificável, singular, visto que era mais filtrada e já caminhava sem pudor pelo pop, os picos melódicos e radiofônicos eram mais intensos e mais frequentes da de seus conterrâneos e colegas de profissão.

Discos como Fugazi (1984), Misplaced Childhood (1985) e Clutching at Straws (1987) consagraram o perfeito equilíbrio entre o progressivo raiz, aquele setentista feito para bicho-grilo, com o sabor açucarado do pop oitentista.

Bingo! Fórmula pronta, testada e comprovadamente infalível, o Marillion se encarregou de ser o porta-voz do rock inglês, ao lado do Genesis e o seu multiplatinado Invisible Touch, durante os anos 80.

Nem a saída do vocalista Fish – Derek William Dick – colocou freio nas ambições do conjunto, já que Steve Hogarth chegou com tudo e emplacando seu DNA artístico no som da banda. A fusão deu liga e o primeiro rebento da trupe fora Seasons End, de 1989, que trazia o mega hit Easter; faixa que conseguiu o feito de entrar nas paradas de sucesso de diversos países, inclusive no Brasil.

Dosando a mão entre o experimentalismo progressivo e o quê pop, os caras deram vida a obras que fizeram a alegria dos bichos-grilos como Brave (1994), Sounds That Can’t Be Made (2012) e Fuck Everyone and Run (F E A R) (2016), e a discos cujo o teor radiofônico fala alto como em Afraid of Sunlight (1995) e Marbles (2004).

Com a aposentadoria do Genesis, Pink Floyd e Emerson, Lake & Palmer; a patifaria desenfreada do Yes, já que há duas versões da banda em atividade; o atual e abatido Jethro Tull e a inconstância do King Crimson, o Marillion ainda é o nome que carrega a tradição e a tocha do rock progressivo inglês.

O quinteto ainda cria obras musicais de mais puro capricho; álbuns que são o maior deleite para quem gosta de se sentar com uma garrafa de vinho de boa safra e apreciar cada nota que sai do player.

Deixe um comentário (mensagens ofensivas não serão aprovadas)