Rush: Moving Pictures é muito mais do que o hit Tom Sawyer

Durante anos, o Rush precisou lidar contra avalanches de críticas e julgamentos ácidos, que vieram do público, da mídia e dos engravatados do setor fonográfico. O trio era erroneamente tachado como um mero híbrido do Led Zeppelin e Genesis, o que quase lhe custou a continuidade das atividades, no começo de carreira.

Contudo, Geddy Lee (vocal, baixo e teclado), Alex Lifeson (guitarra) e Neil Peart (bateria) afrontaram as línguas venenosas, além disso, ousaram musicalmente e liricamente a ponto de enveredar por caminhos pouco trilhados por seus pares.

É claro que nesse processo, o Rush peneirou o seu público; com isso, só embarcou na viagem musical do trio a galera que não tinha aversão a outros temperos sonoros, já que o pop e o reggae, por exemplo, passaram a ter espaço e protagonismo em seus discos.

Moving Pictures, oitavo trabalho de estúdio dos canadenses, é um perfeito exemplo do que fora dito anteriormente. O disco é uma amálgama de diversos sabores musicais, mas muito bem costurado, cujas as ideias são apresentadas ao ouvinte seguindo o básico e infalível diagrama de começo, meio e fim.

Tudo ali há um sentido de ser – nada está fora de esquadro! O clima denso e soturno de Witch Hunt, a título de exemplo, é amenizado pelas nuances reggae presentes em Vital Signs. O quê virtuoso de YYZ tem sua justa oposição no clima suave e contemplativo de Limelight.

Tom Sawyer, que abocanhou boas posições nas paradas canadenses, norte-americanas e britânicas, pode levar o cartaz de locomotiva de Moving Pictures, todavia, resumir o resto do repertório como meros atos prostrados na areia movediça da coadjuvância, é fechar os ouvidos, o coração e os sentimentos para uma das maiores obras já criadas por uma banda de rock n’ roll.

A sofisticação e o ímpeto hard rock de Red Barchetta são um prato cheio para quem curte as benesses materiais como os carros esportivos luxuosos. Já The Camera Eye ostenta a reputação de ser a cota mais progressiva da obra, entretanto, passa longe de cansar o ouvinte com uma monotonia musical imposta pelo hedonismo do trio.

Mesmo tendo incorrido na fúria dos radicais, o Rush ousou e colocou na praça álbuns como o caprichado Moving Pictures, que é muito mais do que um hit e ou uma moda de verão.

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