Roots coroou a genialidade musical do Sepultura e o estrelismo de Max Cavalera

“I believe in our fate, we don’t need to fake. It’s all we wanna be, watch me freak. I say we’re growing every day. Getting stronger in every way. I’ll take you to a place where we shall find our roots”, diz os primeiros versos do clássico Roots Bloody Roots, open track do sexto álbum de estúdio do Sepultura, Roots.

O caminho para chegar em tal trova metálica e autobiográfica foi ascendente e, de certa forma, sinuoso, visto que nada caiu de mão beijada no colo de Max Cavalera (vocal e guitarra), Andreas Kisser (guitarra), Iggor Cavalera (bateria) e Paulo Xisto Jr. (baixo).

Prova dos nove

Os caras precisaram se impor de maneira firme e implacável no mercado internacional. A indústria fonográfica europeia e norte-americana não iriam estender o tapete vermelho a quatro moleques vindos do exótico Brasil. Para boa parte deste público estrangeiro, o nosso dia a dia era em cima de árvore, comendo fruta e conversando com toda a nossa variedade e diversidade de fauna e flora.

O quarteto atestou que aqui também era a terra de poderosos e imponentes sons plasmados no thrash metal e death metal! No começo, a música do Sepultura era essencialmente calcada nos baluartes do som pesado, contudo, ao longo da jornada, a banda foi desmamando das influências internacionais, mudou a genética da própria arte, ganhou ainda mais nome e importância mercadológica e passou, inclusive, a influenciar o pessoal veterano e os calouros.

Os álbuns Arise (1991) e Chaos A.D. (1993), que começaram a firmar o DNA Sepultura em composições ordenadas por bastante groove, abalaram as estruturas da cena metal e colaboraram para remodelagem da estética sonora da década de 1990.

DNA brasileiro

O ápice criativo, no entanto, veio com o já citado Roots, trabalho lançado no dia 20 de fevereiro de 1996. A proposta era complexa e extravagante, já que consistia em aprofundar a fusão do thrash/death metal com os ritmos, nuances e sabores integralmente brasileiros.

“Nós decidimos fazer um álbum que expandisse o que começamos em Chaos A.D. Nós já havíamos usado linhas percussivas incomuns na música pesada e funcionou muito bem, então pensamos que poderíamos trazer mais este tipo de coisa. Por isso trouxemos o músico brasileiro Carlinhos Brown para a cena. Ele é um cara louco e mágico”, disse Max, em entrevista ao jornalista e escritor Jon Wiederhorn.

Além de Brown, o Sepultura captou ainda mais a essência brasileira ao trazer para o mix sonoro a curiosa participação da tribo indígena Xavante, que resultou nas canções Itsari e Canyon Jam, esta última com mais de treze minutos de duração. Sem contar, é claro, à adição de berimbau e as participações de Mike Patton (Faith No More), Jonathan Davis (Korn) e DJ Lethal (Limp Bizkit) para engrossar e incrementar o caldo sonoro.

Gravação

Roots, que foi gravado e produzido por Ross Robinson (Korn, Limp Bizkit, Slipknot, entre outros) no Indigo Ranch em Malibu, Califórnia, Estados Unidos, fez bonito nas paradas de sucesso, visto que abocanhou, a título de exemplo, a 27ª posição da Billboard, além disso recebeu críticas positivas de várias revistas e jornais e vendeu mais de meio milhão de cópias em todo o globo.

Estrelismo à la Max

Em tal ascensão, Max Cavalera foi se rendendo às efemeridades da fama; começou a acreditar, influenciado, possivelmente, por vozes alheias, que era a única estrela do grupo. Dessa forma, o músico caiu no canto da sereia e foi o astro de cenas e momentos constrangedores.

Muita fama, altíssimas doses de álcool e drogas, dinheiro praticamente nascendo do chão e conselhos desastrosos ajudaram a implodir a relação entre o frontman e os outros integrantes do Sepultura. O Cavalera deixou o grupo no auge da popularidade para seguir carreira por conta própria, que nunca alcançou um terço da glória de outrora.

Nem tão alto e nem tão avante

Considerando o quão inovador era o Roots, a profundidade e a sofisticação do repertório e o seu impecável capricho artístico, o Sepultura tinha, a princípio, todos os requisitos para voar bem mais alto do que já havia experimentado até ali.

Se todos os ciclos de turnê e divulgação tivessem sido concluídos, a marca Sepultura seria, sem dúvida, ainda maior do que é nos dias atuais. Infelizmente, a prioridade do frontman mineiro era outra, bem distante da comunhão com os parceiros, e a história foi escrita de uma outra forma.

Deixe um comentário (mensagens ofensivas não serão aprovadas)