Parental Advisory Explicit Content: A censura que saiu pela culatra

É fato! O heavy metal e rock n’ roll sempre foram mal vistos e quistos por grande parte da sociedade. Embora haja milhões de fãs nos quatro cantos do planeta e sejam dois dos estilos musicais mais populares do globo, os riffs e solos de guitarra, os vocais poderosos e a armada formada pelo baixo e bateria sempre gelaram as espinha e causaram calafrios aos ouvidos mais sensíveis.

Além do teor musical, a estética peculiar presente no rock e metal também assombra e aterroriza o “cidadão de bem”, onde os longos cabelos, algumas vezes tingidos de diferentes cores, tatuagens, piercings, maquiagem, camisetas pretas com o logotipo, mascote e ou capa do álbum e grupo favorito, coletes, jaquetas, entre outros aparatos, colaboram para ojeriza e repulsa sistemática perpetrada pela sociedade.

Conjuntamente, a mídia hegemônica retrata, invariavelmente, o fã de rock e metal de forma preconceituosa, hostil e marginalizada. Não é raro pipocar nos noticiários casos escabrosos e bizarros de violência, e caso haja a mínima percepção que o suspeito de tais atos repugnantes tem um pé no rock e metal, a conta vai, sem dúvida, recair no gosto musical da pessoa. É o bode expiatório comumente usado pela mídia hegemônica, pois é fácil e corriqueiro incriminar o ator divergente, díspar, do que perceber e corrigir as próprias mazelas enquanto sociedade.

Um dos casos mais icônicos e patéticos em tentar vilanizar o rock e metal aconteceu em meados da década de 1980, quando Mary ‘Tipper’ Gore, ex-esposa do ex-senador e ex-vice-presidente do Estados Unidos, Al Gore, fundou, junto com outras três ociosas esposas de políticos: Susan Baker, Pam Howar e Sally Nevius, o Parents Music Resource Center.

Além do lobby político, a ideia de Tipper também ganhou eco em vários grupos religiosos, que fizeram questão de manter uma atuação inquisitória contra os estilos musicais. Os devotos chancelaram a censura, já que o rock e metal eram o veículo usado pelo Tinhoso para envenenar as mentes dos jovens, com isso temiam pela instauração da barbárie na “imaculada” sociedade norte-americana. Era o pânico moral da vez!

Parents Music Resource Center

O PMRC fora um comitê criado para que os pais pudessem ter mais controle sobre o tipo de música consumido pelos jovens. Pressionando a RIAA (Associação Americana da Indústria de Gravação), a comissão conseguiu impor seus ideais, logo, álbuns e canções que estavam em desacordo e desalinho com suas regras foram taxadas como impróprias e receberam um selo de alerta: Parental Advisory Explicit Content, indicando que o conteúdo era de extremo perigo aos pimpolhos.

O conselho chegou exercer influência na programação televisiva, também. Canais como MTV e VH1 foram pressionados a não veicular certos videoclipes, pois o conteúdo, segundo Tipper e sua infantaria dos bons costumes, era chocante, maligno e danoso aos jovens.

As Quinze Músicas Mais Nojentas

Os mais sábios e antigos já diziam: “Você julga o próximo com o que está cheio o seu coração”. A turma de Tipper contemplou sadomasoquismo, hedonismo, obscenidade, violência, ocultismo e apologia às drogas e álcool em quinze músicas, em especial.

Da seara rock e metal, a “lista do mau” contava com sons como Eat Me Alive (Judas Priest), Bastard (Mötley Crüe), Let Me Put My Love Into You (AC/DC), We’re Not Gonna Take It (Twisted Sister), Animal (Fuck Like a Beast) (WASP), High ‘n’ Dry (Saturday Night) (Def Leppard), Into the Coven (Mercyful Fate), Trashed (Black Sabbath) e Possessed (Venom).

PMRC Vs Dee Snider

Em setembro de 1985, o Senado norte-americano, munido de representantes do PMRC, recebeu os icônicos Frank Zappa e Dee Snider (Twisted Sister) para uma possível tentativa dê-los apequenar e desprestigiar e, explicitamente, estereotipá-los como ignorantes, tolos e desinformados. Porém, a dupla foi incisiva, direta, sagaz e brilhante em seu discurso, o que deixou muita gente boquiaberta e sem o rumo de casa.

Tipper não contava com a astúcia de Snider e fora obrigada escutar calada e engolir a seco a fala de que deve curtir um sadomasoquismo e bandagem, pois fora o que encontrou nas letras de Under The Blade, do TS.

Dee e Frank saíram da audiência vencedores, mas não levaram o prêmio! Governo, conselho e RIAA fecharam um acordo e a etiqueta Parental Advisory seria colocada nos discos, singles e canções que fossem taxadas como ofensivas e impróprias aos adolescentes.

Gore queria muito, muito mais, com um sistema de classificação e proibição de capas de álbuns explícitas, mas não conseguiu e se contentou com o adesivo de alerta nas capas.

Censura Que Saiu Pela Culatra

Tudo que é proibido, reprimido e censurado tende a ser o objeto de desejo da juventude! Não era raro ver a molecada escolher um álbum por conta da capa e pelo “bendito” selo de aviso de conteúdo chocante. Era como um sinônimo que o disco era bom e valia cada centavo de seu preço. Ou seja, a tentativa de censura acabou se tornando uma poderosa arma de divulgação para as bandas e artistas.

Com o passar dos anos, o PMRC foi desaparecendo silenciosamente, atualmente é apenas um motivo de chacota e deboche. O rock n’ roll e heavy metal, no entanto, continuam mais fortes do que nunca.

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