João Gordo é uma peça mais do que essencial na cena musical e social brasileira

Poucos artistas têm a capacidade e a graça de passar incólume pelo teste do tempo, mantendo relevância dentro e fora dos palcos. O mais comum é vermos nomes da música realizando apresentações patéticas, sem uma centelha de capricho, sendo um cover de si mesmo e se arrastando, no pior estilo aos trancos e barrancos, na cena, com performances risíveis e ordinárias.

A coisa piora ainda mais quando os “estimados” músicos, que chegaram a tremular as bandeiras da anarquia e igualdades sociais, se tornam militantes do grotesco e nojento lema fascista: Deus, pátria e família. Tais figuras se transformaram, com o passar dos anos, no suprassumo da cólera e mágoa e roteadores de desinformação, patetice e imbecilidade.

Contudo, há luz no fundo do túnel, há nomes da música como o frontman do Ratos de Porão, João Gordo, sujeito que usou as oportunidades que a vida lhe ofereceu para trilhar um caminho assertivo. Por conta de seu caráter punk, talvez, Gordo passou longe das efemeridades e banalidades do universo musical que alguns artistas cismam em chafurdar.

E mais, João tomou um dos caminhos mais excruciantes de nossa existência: a reforma íntima. Em 2022, durante uma entrevista ao jornal O Globo, o músico disse: “Estou tentando sempre me tornar uma pessoa melhor. Há uns 20 anos, eu era um bolsominion! Eu era escroto, homofóbico”, pontuou. “Hoje sou um ser humano em construção e um filho da puta em desconstrução”, completou.

Para tal percepção, o indivíduo necessita de uma humildade, despojamento e caráter que a maioria dos artistas e, até mesmo, pessoas anônimas não dispõem e, quiçá, dão de ombros.

Bem, para não ficarmos apenas no discurso, vamos a dois exemplos práticos de o porquê considerarmos João Francisco Benedan uma peça mais do que essencial na cena musical e social brasileira.

No campo musical é fácil, fácil sacar a importância do cara, basta repousar os ouvidos em obras sonoras como Crucificados pelo Sistema (1984), Descanse em Paz (1986), Brasil (1989) e Necropolítica (2022). Conteúdo lírico mais do que pertinente e bem versado, e performances primorosas que combinam com o teor implacável das canções.

Já na seara social, o músico, com o apoio de sua esposa e filhos, deu vida, durante o terrível e mais crítico período da pandemia de Covid, ao projeto Solidariedade Vegan, iniciativa que distribui mais de três mil refeições aos moradores de rua e às comunidades carentes de São Paulo.

Além de ajudar a mitigar a fome de nossos irmãos mais necessitados, a intenção do Solidariedade Vegan é colaborar para a erradicação da pobreza, reduzir as desigualdades e fomentar a agricultura sustentável.

É evidente que o Gordo não põe de pé o projeto de forma individual, o que é maravilhoso, na verdade, pois possibilita a chance de outras pessoas embarcarem na necessária e benfazeja ação.

A gente poderia ficar por mais um bocado de tempo pontuando os atributos e projetos do vocalista do Ratos, mas, em suma, João Gordo é uma peça mais do que essencial na cena musical e social brasileira, visto que é um grande ser humano em construção e um filho da puta em desconstrução.

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