Helloween Renasce Com Um Som Mais Pesado, Maduro E Elaborado Em Seu Álbum Autointitulado

Quando se pensa em reunião, a primeira coisa que vem à cabeça é “pessoas trancadas numa sala, atrasando o seu trabalho por causa de um assunto que poderia ser resolvido por e-mail”. Mas o inveterado fã do bom e velho heavy metal também pode lembrar do Helloween, que em 2017 anunciou uma aguardada reunião com os ex-desafetos: Michael Kiske (vocal) e Kai Hansen (guitarra, vocal) após mais de 20 anos, mantendo também o vocalista Andi Deris e o restante da formação vigente. Após rodar o mundo com shows de quase 3h na ambiciosa e reverenciada turnê “Pumpkins United” e se tornar o assunto do ano no universo da música pesada, os alemães queriam mais.

É nesse clima cercado de expectativas que recebemos o novíssimo registro de estúdio do atual septeto, “Helloween”, de 2021. O fato de ser um álbum autointitulado, bem como a bela capa distinta dos padrões anteriores da banda, deixaram claro o sentimento de ruptura e recomeço que só fez aumentar a curiosidade sobre o material.

Eis que a abertura do disco não poderia ser diferente, Out for the Glory é um típico power metal épico cujo título escancara as pretensões da banda: a glória, e serve para o fã abrir aquele sorriso saudosista. Em Fear of the Fallen, as coisas começam a ficar bem mais interessantes, onde o instrumental pauleira casa perfeitamente com o dueto vocal agressivo, enquanto Best Time é uma grata surpresa, com uma pegada hard rock oitentista deliciosa.

Daí chega a hora de soltar o pescoço e tirar a poeira do colete, porque a ensurdecedora Mass Pollution é heavy metal até o talo. Um soco no estômago e uma das melhores faixas lançadas pelo Helloween em muito, muito tempo. Já embasbacado pela qualidade do álbum, o incauto fã que espera uma balada melosa em Angels é novamente surpreendido por uma interessante faixa cadenciada e muito sóbria, com contornos soturnos, que não deixa o peso de lado.

Aliás, o peso é um aspecto que permeia todo o álbum, cuja destilaria de riffs em consonância com uma cozinha furiosa podem fazer o ouvinte pensar que colocou Painkiller no play por engano, como se percebe em momentos de Cyanide e da magnífica pedrada Indestructible.

Para os que desejam o ‘up tempo’ do power metal, a trinca Rise Without Chains, Down in the Dumps e Robot King são pratos cheios, onde a última se destaca pelos vocais repletos de notas altas e drives vocais de Kiske e Deris, que trazem ainda mais agressividade para o encorpado som.

Por fim, a vinheta Orbit introduz Skyfall, a mais longa do disco, que foi lançada como single em uma versão encurtada pela metade. Uma pena, pois a faixa integral faz muito mais sentido com suas belas nuances e várias mudanças de andamento, onde há espaço para todos os integrantes e instrumentos brilharem, com algumas inspirações “ironmaidenísticas”. A faixa é a cara do Helloween de Kai Hansen, que assina a composição e canta alguns trechos principais.

Finalizada a audição, as expectativas sobre o renascimento da banda através de um som mais pesado, maduro e elaborado, estavam todas corretas e foram superadas. Em um disco arrasa-quarteirão com tantos destaques, sem baladas e sem composições questionáveis, a produção de altíssima qualidade facilita que o instrumental seja um espetáculo, criando um paredão sonoro de arrancar as calças pela cabeça. Para deleite dos fãs, tanto Kiske quanto Deris demonstram empolgação extra, com Kai Hansen ficando mais nos vocais de apoio, e o terceto também funciona de maneira indefectível.

“Helloween” é um verdadeiro manifesto de autoafirmação. E que afirmação! Existem bandas antigas que conseguem voltar ao topo do jogo soando renovadas, e agora os alemães definitivamente entraram nesse grupo, com um lançamento que não é apenas nostálgico e não é apenas bom, mas sim, é definidor.

Ao contrário das reuniões de escritório, a do Helloween está sendo extremamente proveitosa.

Track listing de Helloween:

01 – Out For The Glory
02 – Fear Of The Fallen
03 – Best Time
04 – Mass Pollution
05 – Angels
06 – Rise Without Chains
07 – Indestructible
08 – Robot King
09 – Cyanide
10 – Down In The Dumps
11 – Orbit
12 – Skyfall

FORMAÇÃO:
Andi Deris – vocal
Michael Kiske – vocal
Michael Weikath – guitarra
Kai Hansen – guitarra e vocal
Sascha Gerstner – guitarra
Markus Grosskopf – baixo
Dani Löble – bateria

Nota: 10

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