Como Bruce Dickinson e Adrian Smith salvaram a carreira do Iron Maiden

Em 2023, é fácil pensar no Iron Maiden como uma pedra inabalável do heavy metal. Mas isso não é inteiramente verdade, por mais louco que isso possa parecer agora. Durante a década de 1990, a carreira do grupo foi ameaçada pela perspectiva muito real de ser completamente descarrilada – via Louder Sound.

O icônico vocalista Bruce Dickinson deixou a Donzela de Ferro em 1993; o ímpeto da banda desapareceu após os álbuns No Prayer For The Dying (1990) e Fear Of The Dark (1992), que foram recebidos de forma bastante morna.

No ano seguinte, o Maiden contratou o ex-vocalista do Wolfbane, Blaze Bayley, como substituto de Bruce. A parceria entre a banda e novo frontman rendeu os trabalhos The X Factor (1995) e Virtual XI (1998).

Lançando o material menos inspirador de sua carreira e com o nu metal começando a dominar totalmente a cena da música pesada, o Maiden se sentiu datado. Esse fato só foi evidenciado quando a banda não conseguiu esgotar os ingressos em Brixton Academy, casa com capacidade para 5.000 pessoas, durante a Virtual XI Tour. Parecia inevitável: o “clássico” Iron Maiden precisava retornar ao seu posto de vanguarda.

No início de 1999, começaram a circular rumores de que Dickinson iria se reunir com a banda para uma turnê de 20 anos. Essa fofoca era tão disseminada que o vocalista do Cradle Of Filth, Dani Filth, chegou a prever o retorno do cantor em entrevista à revista Kerrang! uma semana antes do anúncio oficial ser feito.

Dickinson teve que negar abertamente o boca a boca na imprensa para tentar manter o quê de surpresa. Ele disse à Kerrang!: “As pessoas me perguntam sobre esses malditos rumores a cada cinco minutos desde que meu álbum solo [Chemical Wedding, de 1998] começou a receber ótimas críticas”.

No entanto, ele suavizou sua postura na mesma entrevista: “Nas circunstâncias certas, seria meio engraçado”. O empresário do Maiden, Rod Smallwood, abordou a história de maneira tipicamente direta, chamando-a de “besteira”.

Em 16 de janeiro de 1999, Bruce se apresentou em Paris com o Angra; na ocasião, o vocalista foi questionado por um blog online sobre uma possível reunião com o Maiden. Embora não tenha confirmado o retorno, o cantor admitiu que houve conversas sobre “fazer algo especial para o ano 2000”, acrescentando que estavam “tentando manter as coisas calmas por enquanto”.

No dia 10 de fevereiro de 1999, algo especial foi confirmado no site do Maiden: Dickinson estava oficialmente de volta, assim como o ex-guitarrista Adrian Smith, que saiu do conjunto em 1990 – seu substituto, Janick Gers, ficaria na banda, expandindo o Iron para seis integrantes.

O retorno de Smith foi mais uma surpresa, mas ele foi um elemento essencial aos olhos de Dickinson e do resto do Maiden, assim como de inúmeros fãs. Afinal, ele co-escreveu sucessos como Wasted Years e 2 Minutes To Midnight; além disso, os dias sombrios de No Prayer For The Dying seguiram imediatamente sua partida. O baterista Nicko McBrain comparou o Maiden trazer Dickinson e Smith de volta à banda como “ganhar na loteria duas vezes”.

Os fãs se alegraram com a reunião, que aparentemente restaurou o relacionamento entre Dickinson e o baixista/líder da banda Steve Harris. A camaradagem da dupla ruiu enormemente no início dos anos 90 e uma espinhosa guerra de palavras ocorreu durante os anos seguintes.

Harris revelou na biografia do Maiden de Mick Wall, Run To The Hills, de 1998, que ele estava furioso com o que considerou falta de esforço de Dickinson durante sua última turnê com o grupo. Do outro lado da cerca, Bruce afirmou que se sentia como “o cara que fica muito tempo em uma festa”.

A banda tentou minimizar essa rivalidade após a reunião. Dickinson disse à revista Metal Hammer em junho de 2000: “Não acho que [as coisas] tenham ficado tão ruins assim. A meu ver, o relacionamento entre mim e Steve não mudou realmente nos últimos 20 anos”. O cantor e Harris aparentemente até trocaram um abraço ao se encontrarem novamente, o que Dickinson disse ser uma das três vezes que o fizeram.

Dickinson também declarou que o Maiden não voltaria apenas para fins nostálgicos. “Não quero igualar as expectativas das pessoas, quero superá-las”, disse ele à Kerrang! Harris estava de olho em muito mais do que fazer do Maiden uma banda qualquer. “Quando Bruce voltou, ele estava totalmente certo de fazer o melhor álbum do Maiden possível, e era isso que eu queria ouvir”, disse Steve à Kerrang!.

Todos nós sabemos o que aconteceu depois. O rejuvenescido Maiden embarcou na turnê Ed Hunter em 1999, antes de entrar em estúdio para gravar seu clássico moderno, Brave New World, de 2000.

A Metal Hammer deu ao álbum – o primeiro material do Maiden com a participação de Dickinson e Smith desde 1988 – uma nota brilhante: 9/10. O falecido jornalista Malcolm Dome taxou o álbum como “uma ressurreição estimulante” e que poderíamos “proclamar mais uma vez a supremacia do Maiden – assim como nos velhos tempos”.

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