Altos e baixos marcam a primeira noite da segunda etapa de shows do Rock in Rio 2022

A segunda etapa do Rock in Rio 2022 iniciou nesta quinta-feira, dia 8 de setembro, trazendo em seu line-up atrações consagradas pelo público e crítica como Guns n’ Roses, The Offspring, Jessie J e CPM22, além de debutantes como o grupo italiano Maneskin, que chegou à Cidade do Rock com moral elevada, sendo um dos shows mais aguardados da noite, e Gloria Groove, que fora a primeira drag queen com um show solo na história do festival.

O agito na Cidade do Rock começou cedo com atrações no Palco Sunset, Supernova e Rock District, no entanto, a coisa toda tomou feitio de festival de rock com os primeiros acordes de O Mundo da Voltas, do CPM22, no Palco Mundo. Em sua terceira participação no evento – as duas primeiras foram em 2015 e 2019 – a banda brasileira chegou armada de sucessos como Não Sei Viver Sem Ter Você, Um Minuto Para O Fim do Mundo, Ontem e Dias Atrás, o que garantiu uma ótima resposta do público. Destaque também para participação de Sérgio Britto, do Titãs, em Tudo Vale A Pena e Será Que É Isso O Que Eu Necessito, e o cover de Por Enquanto, da Legião Urbana.

A primeira atração internacional no Palco Mundo veio logo em seguida e fora o grupo californiano de punk rock, The Offspring, que não poupou seus maiores hits logo no começo do set e disparou sons como Staring at the Sun e Come Out and Play para instaurar de cara o teor do show: Pura diversão. Dexter Holland (vocal e guitarra) e Noodles (guitarra), que são os únicos integrantes remanescentes da formação original do grupo, comandaram muito bem a festa punk com simpatia, comunicação com os fãs e, claro, muita música, apesar de algumas rateadas vocais por parte de Dexter.

Sons novos como The Opioid Diaries e Behind Your Walls pouco acrescentaram para o saldo positivo, entretanto, canções como Why Don’t You Get a Job, Hit That, Pretty Fly (For a White Guy), Want You Bad e Self Esteem levantaram a galera e garantiu ao grupo norte-americano um ‘backing vocal’ de milhares de vozes. Apesar da falta de sons como Gone Away, Original Prankster e She’s Got Issues, o show foi energético, intenso e curto, sendo assim, deixou um bem-vindo gosto de quero mais.

Com popularidade nas alturas, a expectativa em torno da debutante Maneskin era grande, os fãs, pois fizeram sua parte e trataram de comparecer em peso e participaram ativamente da apresentação da banda italiana, que ostentou com orgulho seu hard rock. Ainda que músicas dos dois trabalhos de estúdio do grupo, II Ballo della vita (2018) e Teatro d’ira (2021), tenham, aparentemente, se conectado intimamente com o público, que por muitas vezes provou estar mais interessado no quê balada da noite do que propriamente no repertório da banda, fica claro que o Maneskin é uma banda de pouca experiência e deslumbrada com a fama, além disso, falta milhagem aos músicos, caras, bocas e atitudes pseudo rebeldes não garantem, tampouco sancionam cadeira cativa entre os panteões do rock n’ roll.

É vexaminoso e lamentável que Maneskin ostente o status de uma das principais atrações da noite de um dos maiores festivais do mundo e, ainda assim, careça de uma das mais básicas demandas do mercado fonográfico: um repertório de peso. Uma das provas claras de tal deficiência do grupo fora a necessidade de incluir em seu set covers de Love of My Life (Queen), que ficou nada menos que vergonhoso, além de Womanizer (Britney Spears); My Generation (The Who), Beggin’ (The Four Seasons) e I Wanna Be Your Dog (The Stooges). Parafraseando o lendário AC/DC, “It’s Long Way to the Top If You Wanna Rock n’ Roll”, e mais, não há atalhos.

Sem atrasos e estrelismos de rockstars mimados, o Guns n’ Roses iniciou sua apresentação no horário combinado e de cara ganhou o público com os hits It’s So Easy e Mr. Brownstone, do incrível álbum de estreia Appetite for Destruction, de 1987. A insossa Chinese Democracy foi o momento perfeito para os fãs encherem, novamente, os copos de cerveja, já que é monótona e tediosa, assim como Better.

É óbvio, não é novidade, mas precisa ser dito: O show do GNR só vale o suado dinheiro dos fãs, devido aos clássicos atemporais como Welcome to the Jungle, Estranged, You Could Be Mine e Rocket Queen, pois as duas músicas novatas: Absurd, originalmente um out-take intitulado Silkworms de Chinese Democracy, e Hard Skool, outra faixa reformulada das sessões de estúdio de duas décadas atrás, são medonhas e sofríveis, que mais ajudariam o andamento da apresentação caso fossem limadas do set.

Outra obviedade do atual momento do Guns n’ Roses é a sobrevida que a banda goza com a volta de Slash (guitarra) e Duff McKagan (baixo e vocal), já que os ‘cospobres’ de rockstars DJ Ashba e TommyStinson nada acrescentavam ao grupo. Slash, com sua técnica apurada e postura ‘guitar hero’, e Duff afiado nos vocais de apoio desequilibram o jogo a favor da banda. Completa a atual formação do grupo Melissa Reese (teclado), Frank Ferrer (bateria), Dizzy Reed (teclado) e Richard Fortus (guitarra).

Já o CEO do GNR, Axl Rose, é uma figura que vem exercendo enorme fascínio e magnetismo no público ao longo das últimas décadas. Mesmo com as novas gerações, que não presenciaram o ápice do vocalista no final de década de 1980 e começo de 1990, conservam um inexplicável deslumbramento e encanto pelo músico. O cantor, no alto de seus 60 anos, faz o possível para entregar uma performance cativante e tecnicamente apurada, no entanto, o tempo é implacável e os anos de excessos de outrora cobram um preço alto hoje em dia, e a performance de Axl atualmente não passa, infelizmente, do razoável.

Outro ponto nevrálgico da atual apresentação do grupo é a duração de seu set, pois um show que beira quase três horas de duração, onde muitos minutos são dedicados a solos individuais e jams apáticas, a dinâmica, vigor e ânimo do espetáculo ficam comprometidos. Ah, mas é uma estratégia para que Rose possa poupar e descansar a voz. Bem, Axl deveria ter planejado melhor a longevidade de sua carreira e cuidado melhor de sua saúde e instrumento de trabalho ao longos dos anos.

Apesar dos poréns citados acima, os hits Sweet Child O’ Mine; November Rain; Knockin’ on Heaven’s Door, com apêndice de Only Women Bleed, de Alice Cooper; Patience, com trechinho de Blackbird, do Beatles; Don’t Cry, Nightrain e Paradise City trouxeram animação, emoção, empolgação e o sentimento de satisfação de que toda maratona do dia valeu a pena. O festival ainda conta com alguns dias pela frente e dezenas de atrações para pisar nos palcos, no entanto, os shows de ontem de nomes como The Offspring, CPM22 e Guns n’ Roses já garantiram, com certeza, lugar cativo nas listas de favoritos do público que prestigiou a edição 2022 do festival.

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