Witchery: Confira Nosso Bate-Papo Com Uma Das Maiores Bandas Do Trash/Death Metal Sueco

A Suécia é há anos um dos maiores exportadores de death metal de todo o Mundo, presenteando o público ávido pelo estilo com obras seminais que têm todos os predicados a passarem ao implacável teste do tempo. O Witchery, banda presente no hall dos mais estimados grupos suecos, acaba de engrossar a lista das boas obras com o novo álbum I Am Legion. E foi para saber sobre o novo álbum que o RockBizz bateu um papo exclusivo com o guitarrista Patrick Jensen. Então, aumenta o som e abre a cerveja porque o papo é dos bons.

O novo álbum I Am Legion será lançado nesse mês. O que você pode nos contar sobre o disco?

Patrick Jensen: Essa é uma pergunta bem ampla. I Am Legion será o novo álbum de estúdio do Witchery desde a formação da banda em 1996. Além disso, será o quinto disco lançado pela Century Media Records, e contará com o mesmo ‘line up’ do álbum In His Infernal Majesty’s Service.

I Am Legion é um título muito bom e forte para um disco. Há alguma razão especial para esse título?

Jensen: O artista visual, Andreas Pettersson, com quem eu tenho trabalhado junto desde o começo do Witchery e The Haunted, tem uma importância muito grande para ambas as bandas. Por exemplo: Andreas não só desenvolveu as capas de discos das duas bandas, ele fez também o logotipo do The Haunted e veio com a ideia do título do disco The Haunted Made Me Do It. Então, é justo dizer que a inspiração e ideias fluem entre as duas bandas e Andreas.

Com o novo álbum do Witchery, Andreas disse que teve uma ideia e acabou me mostrando, nós conversamos e mudamos alguns detalhes e, por fim, eu vim com o título do disco depois de ver a capa pronta. I Am Legion é do Novo Testamento, onde Jesus perguntou a um homem possuído qual o nome do demônio que o possuía, e o demônio respondeu: “I Am Legion, porque nós somos muitos”. Além disso, é uma frase de um dos meus filmes de terror favoritos: o fabuloso e subestimado Exorcista 3. A pessoa na capa é formada por muitos demônios, ou seja, coube, perfeitamente, com o título.

Qual a principal diferença entre In His Infernal Majesty’s Service (2016) e o novo álbum?

Jensen: Apesar de o ‘line up’ ser o mesmo em ambos os discos e não terem tanto tempo entre eles, I Am Legion tem uma pegada diferente em relação às músicas de In His Infernal Majesty’s Service. Em IHIMS o processo de composição seguia um esquema mais tradicional em relação ao grupo. Nós escrevemos esse álbum pensando Emperor Magus Caligula, já que ele já tinha feito vários shows com o Witchery, incluindo uma turnê japonesa, então, ele cantaria no disco. Mas Caligula, infelizmente, teve que deixar a banda por ter desenvolvido um problema em seu ouvido interno e o órgão responsável pelo equilíbrio. Em resumo: ele sofreu perda da audição por conta de som alto, como nos shows ao vivo e em estúdio com os fones, então, era impossível para ele cantar sem se sentir tonto e com vertigem, com isso, Caligula saiu e Angus Norder se juntou à banda.

Angus tem um estilo diferente de cantar se compararmos à Caligula, e isso era algo que queríamos explorar em I Am Legion: escrever músicas específicas ao estilo e habilidades de Angus, então, os arranjos das músicas de IAL são um poucos mais soltos como, por exemplo, em Welcome, Night, onde seu estranho tempo no começo é onde os riffs estão dando base para o vocal, ou seja, os riffs vêm antes e depois os vocais são colocados acima como um toque especial. Nós nunca trabalhamos dessa forma, e nunca fizemos nada como a música True North, por exemplo. Eu acredito que o novo álbum caminhará ainda mais nessa direção.

I Am Legion foi produzido por Daniel Bergstrand (Behemoth e In Flames). O que ele pôde adicionar ao som da banda?

Jensen: Mesmo eu já tendo gravado muitos álbuns e ser da Suécia, eu nunca tinha trabalhado com Daniel antes de In His Infernal Majesty’s Service. Eu o conheci no estúdio quando ele estava trabalhando com o In Flames, ou seja, éramos só conhecidos, mas foi até escutar o disco Abbath, cujo disco curti muito o som da bateria, então, decidi falar com ele sobre o álbum do Witchery.

Daniel e eu, imediatamente, nos demos bem quando começamos a falar sobre algumas ideias para produção do álbum, e eu disse a ele que queria um som de bateria como o disco 1984, do Van Halen. Daniel comentou que ninguém o tinha pedido um som como aquele, então, sua curiosidade foi aflorada pelo desafio em conseguir o som da bateria aliado a uma pegada mais moderna.

Eu estou muito feliz como ambos os discos (In His Infernal Majesty’s Service e I Am Legion) se deram, já que eles soam orgânicos e têm um quê de perigo como os discos dos anos 80 e 90 tinham antes dos computadores conseguirem corrigir tudo e deixar com aquele som “perfeito”, soando como uma máquina tocando as músicas de um jeito que eu nunca tinha experimentado antes.

O quanto as apresentações ao vivo os ajudam quando a banda entra em estúdio?

Jensen: É verdade que você consegue desenvolver uma sinergia especial com os outros músicos quanto mais você toca com ele ou ela, mas é um desperdício caso você toque com o metrônomo, por exemplo, ou com ‘backing tracks’ ao vivo e caso grave a bateria primeiro, depois o baixo e guitarra. A sinergia vem de conhecer o que os outros músicos vão fazer antes da ação.

Como o Witchery não usa ‘backing track’ ao vivo essa sinergia é bem usada quando tocamos ao vivo. Nós também gravamos nossos discos ao vivo em estúdio, então, de certa forma, é ao vivo em estúdio. Funciona dessa forma porque somos nós na banda, com a nossa sinergia e imperfeições, e é o que faz nosso estilo reconhecível.

Eu, pessoalmente, acho que hoje em dia o metal é muito perfeito, porque é muito fácil corrigir tudo no computador. Eu quero que o meu metal soe perigoso e vivo, eu não quero que tudo seja perfeitinho, porque a coisa se torna chata.

Quais as coisas mais legais e menos legais de estar em turnê?

Jensen: As pessoas gostam de estar numa banda. Algumas adoram escrever músicas, mas odeiam excursionar; outras adoram excursionar e odeiam compor. Eu adoro os dois: compor e excursionar. Para mim, um bom ensaio, por exemplo, quando você tenta aquela música nova e soa bem, pode motivar uma satisfação ainda maior do que um bom show.

O que eu mais curto em excursionar é viajar, eu amo ver e visitar novos lugares. Eu conheço muitos músicos quem não curtem isso, mas eu adoro. Viajar e conhecer as pessoas que curtem sua música significa muito. O que eu menos curto é a espera. Como eu disse: eu não me importo de viajar, mas não é legal quando você acorda às 9h e tem que esperar até o clube ou casa de show abrir às 13h para tomarmos banho, comer, etc.

Aí você tem que esperar até às 17h para fazer a passagem de som e esperar mais pouco até o show começar às 22 ou 23h. Quando a gente toca na Europa há menos espera, porque as cidades são velhas e feitas para  andarmos facilmente por ela, o que significa que você pode sair e tomar um café da manhã em algum lugar ou conhecer algum lugar especial na cidade.

Nos Estados Unidos, onde as cidades são construídas para que você seja obrigado a ter carro, você está fadado a estar no estacionamento e no clube onde tocará. Muitas cidades nos EUA nem têm calçadas, então, você pode ir ao posto de gasolina, no final da rua, e ser atropelado por um carro por ter que andar na rua.

O que nós podemos esperar do Witchery para o futuro?

Jensen: Muitas turnês e álbuns. Nunca haverá quatro ou seis anos entre os próximos discos.

Obrigado pela entrevista. Você poderia deixar uma mensagem para seus fãs?

Jensen: Muitos dos integrantes do Witchery já estiveram no Brasil com outras bandas, mas nós nunca estivemos aí como Witchery. Isso é, claramente, um dos nossos objetivos: ir aí e tocar para os nossos fãs, que têm nos apoiado tanto.

Nós gostaríamos de agradecer muito por estarem com a gente em todos esses anos, mesmo quando nós tivemos que pausar as atividades do grupo por conta de outros compromissos dos músicos. Com essa nova formação, o Witchery nunca mais diminuirá o ritmo. Muito obrigado a todos e espero vê-los num futuro próximo.

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