Shadowside: Foco, Evolução E Uma Carreira Musical Sólida

O jargão popular: Fazer mais e falar menos parece ser o mantra repetido à exaustão pelos músicos da banda paulista Shadowside, afinal, o ritmo e a qualidade de trabalho imposto pelo grupo – composto por Dani Nolden (vocal); Raphael Mattos (guitarra);  Magnus Rosén (baixo) e Fabio Buitvidas (bateria) – o coloca, merecidamente, em uma posição de destaque na cena metálica nacional e internacional.

E para saber as novidades no mundo do Shadowside que fomos bater um papo amistoso com o guitarrista Raphael Mattos, onde, dentre tantos tópicos, o músico adianta um pouco o que os fãs irão encontrar em Shades of Humanity, novo álbum de estúdio da banda; as participações especiais do disco; cena metal brasileira e, lógico, os planos futuros da banda. Então, sem delongas porque a palavra é do Raphael Mattos.

A banda está prestes a lançar o novo álbum de estúdio, Shades of Humanity. O que você pode nos contar sobre o novo disco?

Raphael Mattos: Bom, posso adiantar que é um trabalho mais maduro. Inclusive, essa é uma opinião do nosso produtor Fredrik Nordström, que, segundo ele, Shades of Humanity é um passo adiante em termos de composições.

Preocupamo-nos bastante com as melodias e detalhes nas músicas, certamente o peso do Inner Monster Out (2011) está mantido, mas misturamos com algumas características dos álbuns anteriores e novas influências que adquirimos ao longo dos anos como músicos.

Entre o álbum Inner Monster Out (2011) e o novo, Shades of Humanity, há um hiato considerável sem lançamento de estúdio. Por que de tal demora?

Raphael: Foram seis anos de hiato, mas começamos a trabalhar no sucessor de Inner Monster Out depois que terminamos a turnê, em 2013. Desde então, viemos compondo tudo de uma maneira mais calma, mexendo muito nas músicas até que ficassem do jeito que gostaríamos. Como eu disse anteriormente, preocupamo-nos mais com os detalhes, aquilo que faz um refrão ficar mais grandioso ou um solo mais marcante, por exemplo.

Shades of Humanity foi gravado e produzido na Suécia sob a direção de Fredrik Nordström (Arch Enemy, Hammerfall, Evergrey) e Henrik Udd (Architects, Arch Enemy). Como foi trabalhar com esses dois gênios da produção? O que eles adicionaram à música do Shadowside?

Raphael: Mesmo com muito tempo gasto para compor sempre sobra alguma coisa para fazer ou mudar na hora da gravação. Aí que entra uma parte importante da produção. O Fredrik, como você citou, é um gênio da produção no heavy metal e tem uma marca registrada. Você ouve seus trabalhos e sabe que é ele quem está por trás daquele som monstruoso. Henrik adquiriu muita experiência trabalhando com o Fredrik, e seu trabalho é impressionante.

Sentimos também que a forma como trabalharam conosco foi ainda mais intensa que no álbum anterior. Digamos que também adquirimos muita experiência com tanta turnê e gravações no exterior, o que nos ajudou muito. Para ter uma ideia, as partes de cordas e bateria foram terminadas com bastante antecedência, o que culminou em nos deixar com mais tempo hábil para trabalhar em vozes e arranjos. Certamente foi o melhor clima dentro da banda até hoje dentro do estúdio e tudo ocorreu de forma natural e fácil.

O conteúdo lírico do novo disco ganha destaque já que vai fundo em tópicos delicados como a depressão, aborto e valores morais da humanidade. O que os motivaram a tratar de assuntos em que boa parcela da sociedade faz questão de tapar os olhos? E o quão difícil é abordar tais temas sem soar piegas, mostrando sua real seriedade?

Raphael: A Dani (Nolden; vocalista) é quem escreve as letras. Mas desde quando eu entrei na banda, ela sempre abordou temas delicados e que são o reflexo da nossa sociedade como um todo, e, claro, há os temas pessoais dela. No caso de Shades of Humanity não foi diferente e, entre os tópicos, estão o desastre de Mariana (Stream Of Shame) e aborto (What if).

O tema central de Shades Of Humanity é sobre o reflexo dos valores morais na sociedade e a capacidade que temos de ao mesmo tempo termos bondade e maldade dentro de nós.

Desde 2015, o baixista Magnus Rosén integra o Shadowside. Como tem sido trabalhar com um músico tão experiente como ele? O que ele pôde adicionar ao DNA do grupo, bem como ao novo álbum?

Raphael: Na verdade, conhecemos o Magnus durante um show em Gotemburgo (Suécia), na turnê com Helloween e Gamma Ray, em 2013. Trocamos um ‘olá’ e ele, como sempre, foi muito educado e nos parabenizou pela apresentação. Então, em 2015, procuramos um baixista para gravar o novo álbum e o nome de Magnus foi um consenso entre os membros da banda, afinal, já sabíamos que íamos gravar em Gotemburgo, o que tornaria toda a logística mais fácil. Depois de algumas trocas de composições, fizemos o convite e Magnus se transformou em um membro da banda.

E já em Shades of Humanity, vocês vão poder sentir toda a presença dele no instrumento e como isso nos deu um ganho musical grande. Além disso, ele já compôs duas músicas para a banda. Nós o deixamos bem à vontade para dar suas opiniões em nossas outras composições e arranjos. Agora, estamos muito ansiosos para dividir o palco com ele. E pelo pouco que conseguimos ver, será uma experiência fantástica não somente para nós, mas também para os fãs.

Shades of Humanity conta com a ilustre presença do guitarrista Andy La Rocque (King Diamond). Como se deu a participação de Andy no novo disco? Com quase vinte anos de atividade, o quão especial é para o Shadowside ter um convidado tão importante para cena metálica nesse novo capítulo da carreira da banda?

Raphael: Andy La Rocque é amigo de Magnus, e eles tinham algumas músicas prontas. Magnus nos enviou as músicas e começamos a trabalhar nelas, dando uma roupagem mais Shadowside e adicionando alguns arranjos e melodias. Eu deixei os riffs com uma característica minha, mas mantive a intenção de Andy.

La Rocque acabou gravando um solo curto na música Unreality.
Particularmente, sou muito fã de guitarristas dos anos 80, e La Rocque é uma referência da época. O modo como ele usa a alavanca é único, e ter a participação dele em nossa música, com sua contribuição artística como compositor foi uma grande honra.

Com a experiência de turnês internacionais e shows ao lado de nomes como Iron Maiden, Helloween e W.A.S.P., o que o Shadowside pôde assimilar e trazer para o seu modo operandis?

Raphael: Definitivamente estamos mais experientes! Estar envolvido no meio de bandas que nos influenciaram é algo que eu não imaginava passar. Estamos sempre aprendendo coisas novas e procuramos sempre aplicar em nosso dia a dia como banda. Já estamos planejando como serão os shows, e queremos fazer com que eles sejam uma experiência única para todos.

Com o lançamento de Shades of Humanity tenho certeza que alcançaremos outro degrau em nossa carreira, e isso será transmitido de forma direta para os palcos.

O que falta para cena metálica brasileira ganhar vigor e se comparar a de países como a Suécia e Alemanha, por exemplo?

Raphael: Com toda essa experiência que adquirimos fazendo extensas turnês fora do país, podemos destacar alguns problemas que dificultam o crescimento da nossa cena aqui no Brasil. A falta de estrutura, por exemplo. Já vi muita gente dizendo que está melhor. Sim, está. Mas lá fora está sempre um passo adiante.

O fato de que é praticamente impossível marcar uma turnê também dificulta muito. Costumo dizer que aqui no Brasil temos a cultura do show ser uma balada. Lá fora temos shows de segunda a segunda com horários e preços acessíveis a todos. Um fator que dificulta para as bandas é o alto custo para se fazer viagens no país. Isso dificulta a vida de todos, inclusive dos contratantes. Recentemente, temos visto uma melhora em relação à profissionalização dos organizadores, que querem ver o crescimento da cena.

O que podemos esperar do Shadowside para o futuro?

Raphael: Acho que o próximo passo é a turnê. Estamos trabalhando para viabilizar isso. Com o lançamento de Shades of Humanity e do videoclipe de Alive começaremos a planejar os shows dentro do nosso país. Com o Magnus na banda fica mais complicado fazermos shows espaçados, de final de semana, então, vamos começar a traçar um plano para que possamos realizar a turnê por aqui.

Obrigado pela entrevista. Esse espaço é seu para considerações finais.

Raphael: Obrigado pessoal  pela oportunidade e espaço, espero que vocês gostem do nosso novo álbum Shades of Humanity. Vocês já podem conferir nosso primeiro videoclipe no Youtube: https://youtu.be/EF9Tv5USAYg. Nos vemos em algum palco em breve.

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