Seu Juvenal: O Rock Errado Mais Certo De Todos

Sabe quando você reencontra um grande amigo que há algum tempo não via, e ao reavê-lo as histórias, risadas, zoeiras e tudo mais o que uma boa amizade traz de lambuja estão lá intacto e vocês só precisam de uma boa cerveja gelada, tira gosto e uma ótima trilha sonora para seguir pela madrugada conversando sobre tudo e mais pouco? Pois é, esse é o teor da conversa que o RockBizz, em parceria com o Som do Darma, teve com o baterista da banda Seu Juvenal, Renato Zaca, já que o bate papo amistoso com Renato é sobre sua banda e muito mais. Então, já abriu a cerveja? Petisco em mãos? Colocou o álbum Rock Errado, do Seu Juvenal, para tocar? Agora, sim, você está pronto para degustar esse prazeroso bate papo. Renato é com você…

Com todas essas resenhas super positivas a respeito de Rock Errado, poderíamos, afinal, dizer que o rock do Seu Juvenal está Correto?

Renato Zaca: Estar correto é algo difícil de afirmar, mas que vem sendo imensamente positivo para nós, sim, disso não temos dúvidas. Este trabalho vem abrindo portas importantes para a banda e nos colocando diante de novas oportunidades e desafios.

O Seu Juvenal foi formado originalmente em Uberaba, no Triângulo Mineiro, mas hoje se estabilizou em Ouro Preto. Ao que se deve essa mudança e como a banda hoje se desdobra para seus compromissos de ensaios, shows e gravações, considerando que um dos integrantes, o baixista Tito, ainda reside em Uberaba?

Renato: A mudança foi em um período que a banda estava sem vocalista. Nesta época meu irmão Zacca, guitarrista do Seu Juvenal, já havia se mudado para Ouro Preto há algum tempo e me senti atraído a fazer o mesmo. Até então, nenhum motivo relacionado à banda. Demos muita sorte, pois o Bruno, nosso vocalista, é de Ouro Preto e o cara nasceu pra fazer parte do time. Com relação ao nosso baixista Tito morar em Uberaba, nós conseguimos criar uma maneira de tudo acontecer mesmo ele não estando fisicamente presente na maioria dos ensaios. Já tocamos juntos há quase 20 anos e isso é um ponto que facilita muito essa “liga”.

Ouro Preto é uma cidade histórica, considerada Patrimônio Mundial da Unesco. De que forma viver nessa cidade poderia inspirar, criativamente, uma banda de Rock Errado?

Renato: Ouro Preto é uma cidade bem peculiar, cada esquina guarda muita história. Suas ruas são cheias de pessoas do mundo todo durante todos os anos e é uma cidade repleta de amigos artistas de todas as áreas. Há muitos artistas “errados” por aqui, e a cachaça é ótima também! (risos)

Ainda sobre territorialidade, Minas Gerais é um estado muito rico, culturalmente. Os traços da cultura mineira são tão fortes quanto os das tradições gaúchas ou nordestinas, por exemplo. Vocês acham que o rock mineiro se faz valer desses elementos regionais, o tanto quanto deveria? O Seu Juvenal se faz ou quer valer disso?

Renato: Realmente Minas tem uma força muito grande vinda de sua arte, mas nós quando estamos trabalhando em novos sons, não nos preocupamos em criar algo que necessariamente se encaixe dentro de parâmetros regionais. Talvez até mesmo por sermos uma banda de rock, crescemos sofrendo influências muito além dos muros de nossas casas. Temos muito orgulho de fazer parte da música autoral mineira, mas acreditamos que a música tem que ser livre para que seja verdadeira.

A tragédia de Mariana (cidade vizinha a Ouro Preto), embora não esteja mais estampando os noticiários, ainda não foi solucionada, certo? O Seu Juvenal não se sente motivado a assumir alguma posição e amplificar questões como essa? Certo ou errado, rock é, sobretudo, atitude, não?

Renato: Não foi solucionado e está longe de o ser. Todos fomos muito afetados por esta triste tragédia, essa ganância que destrói montanhas e rios, que mata e que tanto prejudica causou muita revolta. Esta revolta se transforma em atitudes de protesto e naturalmente aparece em nosso trabalho, seja direta ou indiretamente.

No geral, você acha que o rock é tão relevante nos dias de hoje como foi nos anos 60/70, até mesmo 80/90? Como você acha que um cara como Raul Seixas, se vivesse seu auge nos dias de hoje, se portaria diante da recente crise política e moral que vive o Brasil, por exemplo? Como será que John Lennon se posicionaria diante da vitória de Donald Trump para presidência dos EUA?

Renato: Pois é, seria melhor falar sobre esse tema numa mesa de boteco, pois o momento que estamos passando não é mole. Já tivemos várias conversas sobre isso e algumas das conclusões é que estamos precisando muito nos encorajar e nos espelhar em personalidades como estas que você citou. O artista tem que ser forte e expressivo, ele não pode hesitar no seu trabalho, mesmo que este venha a chocar algumas pessoas. É difícil comparar épocas passadas do rock com a de hoje por vários motivos, mas posso garantir que mesmo dentro desse período artificial, e de grande individualismo social em que vivemos, temos bandas que estão usando sua voz de uma maneira libertadora e a favor da paz.

O Seu Juvenal já deve estar se preparando para gravar um novo disco, o quarto da carreira. O que vocês poderiam adiantar sobre esse trabalho?

Renato: Iniciar o processo de produção para nosso quarto álbum é apenas um de nossos desafios para 2017. Já temos algumas letras, alguns riffs e até algumas músicas, mas tudo ainda em laboratório. Estamos trabalhando pesado na estrutura de dois shows distintos: um é o show “Rock Errado”, onde sempre buscamos deixar nossa apresentação cada vez mais “porrada na cara”; e o outro show é uma homenagem a alguns nomes “malditos” da música brasileira que tanto nos influenciaram. Estamos trabalhando muito, mas felizes, pois tem muita coisa boa para conquistarmos neste ano novo.

O Seu Juvenal se caracteriza pela pluralidade de referências. A banda faz um trabalho artisticamente livre de amarras. Até onde pode chegar essa liberdade? Há algum limite auto-imposto? Quero dizer, não podemos esperar o Seu Juvenal um dia mesclando rock com forró, ou poderíamos?

Renato: Saber mesclar de uma maneira positiva é uma tarefa muito complicada. Existem poucos nomes que conseguem fazer isso. O Igor Cavalera é um bom exemplo: na música Terrorize – uma das mais pesadas do disco do Cavalera Conspiracy – ele colocou uma batida de baião e ficou muito foda. Como nós gostamos de explorar novos horizontes, nunca nos prendemos em rótulos e estilos. Nós compomos em sintonia e isso nos poupa de grandes conflitos quando estamos criando novos sons. É claro que às vezes um diz: “puta que pariu, que coisa mais brega ‘ocê’ tá fazendo!”. Aí a gente dá uma boa gargalhada e toca o barco!

O ano de 2016 está se encerrando. Foi um bom ano para o Seu Juvenal? O que esperar de 2017?

Renato: Foi com certeza um ano muito produtivo para nós, podemos firmar parcerias importantes e refletir sobre onde devemos melhorar. Eu te digo que 2017 será o ano do Seu Juvenal!

A palavra agora é da banda. Ao invés de deixar uma mensagem dessas padrões, convidando as pessoas pra acessar o site e mídias sociais da banda – vamos listar esses endereços ao fim da entrevista – gostaríamos que vocês deixassem uma mensagem que realmente pudesse acrescentar algo para quem estiver lendo. Sobre qualquer assunto. Política, existencialismo, uma receita de um rango bom, religião, esportes, viagem, cultura, arte.

Renato: Olha só, quero primeiro agradecer muito mesmo esse espaço que vocês nos cederam e dizer que curti muito essa entrevista, deu pra sacar que foi feita para leitores diferenciados que não querem sempre o mesmo. Odeio política, passo longe de ser filósofo, cozinho muito mal e a religião que acredito eu criei dentro de minha cabeça, acho que não sobrou muita coisa para compartilhar a não ser a ideia de que ao invés de tentarmos mudar o mundo através de redes sociais, devemos sair de casa e olhar em volta, usar nossos braços e pernas para nos organizar, nos fortalecer, ficarmos mais inteligentes e ajudar. Abraço para todos!

Agradecimento especial ao Som do Darma.

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