Pettalom: Marcos Riva Fala Sobre A Banda Pioneira Do Gothic Metal No Brasil

Tatuí, cidade localizada no interior paulista, a exatamente 149 km da capital, seria só mais uma cidade pequena e pacata do interior se não fosse pela importância de seu famoso conservatório musical e isso foi o crucial para brindar o resto do nosso país com ótimos músicos.

Em meio a isso, ali surgia, no final dos anos 90, mais uma banda de heavy metal, mas não só mais uma banda de heavy metal, surgia o grande Pettalom, banda que foi uma das pioneiras, no Brasil, a assumir o termo gothic metal em sua demo tape de estréia, e ao lado de bandas como Ravenland e Silent Cry deu o start neste cenário no Brasil.

Nesta entrevista, conheça um pouco mais sobre essa banda que já foi tida por revistas especializadas em metal do nosso país como: banda revelação, e após idas e vindas retorna, agora, com uma nova formação e dando nova roupagem ao seu gothic metal. Com a palavra, Marcos Riva, vocalista e letrista do Pettalom.

O Pettalom lançou sua primeira demo tape, The Wine Of The Night And The Promisses Of The Sun, em 1988, quase vinte anos atrás. Quais foram suas maiores influências para compor um trabalho tão belo e profissional para a época, marcando a estreia do gothic metal no Brasil?

Marcos Riva: As principais influências de nossa primeira demo foi uma soma do gosto pessoal de cada integrante na época. Então, tivemos uma soma singular entre Type O Negative, Iron Maiden, Nightwish, Paradise Lost, Theater of Tragedy e Judas Priest. Isso nos deu um approach diferenciado na época e a demo acabou abrindo muitos caminhos, tanto em revistas especializadas como zines e até mesmo o convite da gravadora na época.

Logo veio o contrato com a extinta Demise Records, como foi conquistar o contrato para o primeiro álbum, The Wine Of The Night?

Marcos: O Wilson Júnior, da Demise, leu a excelente resenha assinada por Ricardo Franzin na Rock Brigade e simplesmente nos convidou. Não lembro muito bem, mas parece que houve recomendação também do Dilpho e do falecido Bruno Selmer, ambos do Silent Cry.

Houve algum produtor ou pressão da gravadora para que a banda tivesse uma vocalista lírica fixa na banda? Ou esse processo aconteceu naturalmente, visto que Tatuí é famosa por seu conservatório de música e envolvimento dos músicos da cena local?

Marcos: Não houve pressão alguma e foi natural na época! O Alan concebeu a necessidade de um vocal lírico poderoso e demos sorte de encontrar a Katia Santana, que é realmente um fenômeno. A repercussão do CD foi imediata, nos colocando em resenha numa edição da Rock Brigade com a mesma nota 9 de Brave New World, do Iron Maiden, e Magica, do Dio! Não creio nisso até hoje! (risos)

O álbum chegou a ser prensado no México e distribuído por gravadoras de lá. A banda chegou a ser votada e eleita como Banda Revelação Do Ano pela revista Rock Brigade, o que impediu a banda de ir mais longe na época com um álbum tão bom em mãos?

Marcos: Em minha opinião foi a falta de experiência, imaturidade da banda enquanto funcionamento de grupo e falta de conhecimentos técnicos administrativos. Éramos todos muito novos, começaram as diferenças de ideias e planos de ação e os rachas internos.

Então, o Alan começou a planejar o próximo álbum, Ancient Sacramentos, concebendo algo gigantesco com corais, tenores e múltiplas linhas de teclados. O lado ao vivo foi sendo esquecido e fui ficando muito chateado, os anos se passaram e acho que Katia Santana foi perdendo o interesse, pois esperava algum resultado financeiro rápido, proporcional aos dez anos de canto lírico dela, enfim, um monte de desavenças e descontinuidades começaram acontecer, iniciando o período de grande instabilidade e de idas e vindas de integrantes.

Fale-nos um pouco sobre como Bruno Selmer, ex-Silent Cry, se juntou ao Pettalom e como foi esse processo? Ele chegou a migrar para o estado de São Paulo para poder se juntar à banda? Descreva suas lembranças de trabalhar com este grande músico e pessoa em seus últimos anos de vida.

Marcos: Putz! Essa parte é foda! Ele veio para nossa cidade, Tatuí, e ficou morando na casa do Ales Sandre, batera que também veio de Minas Gerais. Posso dizer que ele era um excelente e divertido amigo, mas tinha um lado escuro, de personalidade bastante difícil para contato com pessoas que lhe eram estranhas, enfim, talvez eu possa expressar como uma profunda misantropia aliada a uma melancolia muito peculiar, sarcástica e, às vezes, até musicalmente genial.

Faz muita falta na cena gothic metal brasileira. Quanto ao que nos foi passado, que foi suicídio em Minas Gerais, não tenho dados corretos para informar, então, prefiro ficar quieto. Selmer era um gênio atormentado pelo próprio ego misantrópico e melancólico. Essa avaliação pode não soar bem e estar errada, mas é a que mais se aproxima de tudo o que houve no passado. Descanse em paz!

Qual foi o motivo do primeiro hiato da banda? Foi por conta da saída da vocalista Kátia?

Marcos: Tudo aquilo que já te apontei em questões acima. Uma soma de coisas, não um ou outro fato isolado.

Existe alguma cláusula de contrato com a extinta gravadora que impede o relançamento do álbum, The Wine Of The Night, nos dias de hoje, por vocês ou por outra gravadora?

Marcos: Prefiro não falar sobre isso no momento por falta de dados e entendimento da questão. Isso seria da área do ex-guitarrista e compositor, Alan de Augustinis, mas ele não faz mais parte da banda e só quer mesmo seguir com sua profissão de advogado hoje em dia. Nunca mais vi ou falei com o Wilson. Pessoalmente, não tenho interesse que o álbum seja relançado, já que ele está completamente disponível na internet e um relançamento seria um retrocesso em direção oposta ao que optamos fazer agora, que é um som mais pesado, sem mais vocal feminino oficial e sem os teclados e corais. O grupo hoje com menos integrantes é muito mais focado!  The Wine foi um clássico, mas os tempos mudaram, pretendemos de alguma forma regravar os velhos clássicos com uma nova roupagem, atualizá-los ao que somos hoje e o que fazemos agora. Direto, reto e pesado.

Ao longo dos anos, o Pettalom, assim como a maioria das bandas, passou por algumas mudanças em sua formação, mas continua com Fernando de Almeida (guitarra), Marcos Riva (vocal) e até o ano passado com Alan de Augustinis (guitarra), que são os integrantes originais. Por que o Alan de Augustinis deixou a banda? E conte-nos um pouco sobre os novos membros.

Marcos: Caramba! Tanta gente passou pela banda! Da formação original só restaram eu e o Fernando de Almeida, sempre nós (risos). Os atuais e novos integrantes são Rafael Saraiva (guitarra), Luiz Trucco (baixo) e Willian Rochel (bateria). E o que é mais importante, todos com sangue nos olhos, muita empolgação e vontade. Isso faltava na banda há muito tempo.

Por que a banda decidiu seguir sem uma vocalista feminina para dividir os vocais com você?

Marcos: Como eu disse, para a banda depender cada vez menos de mais integrantes e cortar, de uma vez por todas, o elemento instabilidade que sempre abalou o barco e impedia avanços mais significativos. Ocasionalmente, teremos participações de vocais femininos conforme disponibilidades e contatos nos lugares em que tocaremos.

A banda está voltando aos palcos com tudo, inclusive a convite e parceria com a banda, Wolfheart And The Ravens. Vocês farão um show especial em São Paulo, no The Gothic Night Festival. Fale sobre suas expectativas desse show e o que o público pode esperar do novo e velho Pettalom.

Marcos: Em primeiro lugar, será a realização de um velho sonho em tocar junto com o irmão Dewindson Wolfheart. Agradeço muito o Wolfheart por ter nos convidado, todos esperamos um excelente evento em São Paulo, no Gothic Metal Festival, no dia 06 de maio.

Wolfheart nos honra com sua generosidade e amizade, e creio que Wolfheart and the Ravens são o top do gothic metal no Brasil na atualidade. Não tem pra ninguém (risos)! Muita qualidade, garra e muito profissionalismo, o que é um exemplo para todos nós.

Existe a possibilidade das duas bandas saírem juntas em uma turnê para outras cidades e estados brasileiros?

Marcos: Por mim seria maravilhoso! Mas creio que compromissos pessoais dos outros integrantes não se adequem a uma turnê longa. Todos trabalham e têm suas famílias para sustentar, então é preciso ver isso com eles.

Creio que o nosso raio de ação não poderá ultrapassar grandes distâncias. Ah, a nossa volta esse ano foi filmada e está no YouTube, com muito boa qualidade. Procurem por Pettalom 2017 Alive in Fabrica Pub. Voltando a pergunta, onde Wolfheart tocar e nos chamar e pudermos estar presentes, estaremos.

Podemos esperar um novo disco do Pettalom em breve?

Marcos: Sim! Já temos material gravado e finalizado, faltando mixar e achar um selo para lançá-lo. Mas será bem diferente do que seria àquele álbum que nunca lançamos, o Ancient Sacraments. Esse disco ficou perdido em algum lugar do tempo e espaço e em alguma dimensão além da compreensão humana (risos).

Conversei com o Alan outro dia, talvez um dia essas faixas sejam mixadas como devem e disponibilizadas de alguma forma, mas, por enquanto, prefiro me concentrar no novo material, que está dentro da nova proposta, compatível com o que estamos fazendo no palco.

Muito obrigado pelo espaço da entrevista e espero ver em São Paulo todos os que amam o gothic metal e heavy metal e apoiam, acompanham e apreciam Wolfheart and the Ravens e Pettalom. We are back again!

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