Epica: Mais pesado e preocupado com a mensagem

Durante a mais recente passagem da banda Epica pelo Brasil no final do mês de setembro – com shows em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro – o guitarrista Isaac Delahaye, na formação desde 2009, nos recebeu para uma conversa.

O músico falou sobre o disco “Requiem for the Indifferent” estar mais pesado que os anteriores e refletiu sobre sua mensagem de se importar com as coisas que acontecem ao seu redor e ser você mesmo: “nós quisemos apontar que você precisa ser você mesmo, não deixando as outras pessoas o manipularem”, disse o guitarrista.

Delahaye falou ainda sobre a música que a banda gravou com um fã com deficiência mental, e também contou sobre a turnê “Retrospect”, que irá comemorar em 2013 os 10 anos da banda. Confira abaixo:

Olá, é muito bacana falar com você e obrigado por nos receber. Vocês acabaram de lançar o álbum, “Requiem for the Indifferent”, como tem sido a resposta ao disco até agora?

Isaac Delahaye: Ótima! Nós fizemos a parte européia de shows com os festivais de verão, agora estamos excursionando pela América Latina e, posteriormente, iremos para América do Norte e Reino Unido. Tem sido uma agenda apertada, mas em todos os lugares temos tido um maravilhoso ‘feedback’ do novo álbum. E o disco é ligeiramente diferente do que vínhamos fazendo até agora. Sem dúvida é algo revigorante tanto para nós quanto para os fãs.

Conte-nos um pouquinho sobre o conceito do álbum e diga no que “Requiem for the Indifferent” se distingue dos outros discos?

ID: O título se refere às pessoas que ainda não se importam com tudo que tem acontecido em nossa volta. A bolha financeira que explodiu; as pessoas no oriente que se cansaram de seus ditadores; os tantos desastres naturais, indicando que devemos nos voltar um pouco mais à natureza. Algumas pessoas simplesmente não se importam e ignoram fatos como esses. O que é uma pena e faz com que alguns mal intencionados consigam mais e mais poder. Se você não gosta de determinada coisa, então, pare de reclamar e faça alguma coisa para mudar o panorama. Essa é mensagem que queremos trazer.

Musicalmente, esse disco é um pouco mais obscuro do que o anterior, todavia, contém os típicos elementos que formam a música do Epica. Dessa vez nos concentramos mais nos vocais e construímos todos os detalhes do disco em volta dele, ao invés de adicioná-los depois de toda música ser escrita, o que deu ao álbum um aspecto bem cativante.

A banda investe uma atenção especial no teor das letras, tratando questões como religião, diferentes culturas e desastres naturais. O quão importante é para vocês escreverem canções com temas tão melindrosos?

ID: Bem, é óbvio que nós não tratamos temas do tipo abelhinhas e melzinho. Nós tentamos fazer a diferença com as letras, queremos fazer as pessoas pensarem sobre determinadas coisas. Como eu disse antes: muitas pessoas imaginam que nada está rolando e ignoram certos problemas. E tem mais: essas temáticas combinam com a música que é muito bombástica e podem carregar uma grande mensagem.

Desde “Design your Universe”, quando você e Ariën Weesenbeek se juntaram à banda e ambos vindos do God Dethroned que tem inclinação ao death metal, a música do Epica está mais pesada e abriu mais possibilidades e influência à banda. Como e no que vocês contribuíram nesse sentido?

ID: Eu creio que tudo é uma questão de explorar todos os lados do metal. Comigo e Ariën os horizontes estão um pouco mais amplos, e a banda está variando um pouco mais.

Pessoalmente, eu também escrevo materiais mais técnicos do que o guitarrista anterior, porque eu adoro riffs com pegada thrash. Antes as partes de guitarra eram criadas no sentido mais rítmico, dando suporte às orquestrações. Agora nos aventuramos mais, damos mais a cara a bater.

“Storm the Sorrow” é o primeiro ‘single’ e videoclipe de “Requiem for the Indifferent”. Mais uma vez as letras se destacam e minha interpretação foi que precisamos acreditar em nós mesmo, haja o que houver. E tanto o fracasso quanto o sucesso está bem diante de nós, cabe a nós escolher qual caminho seguir. Você poderia compartilhar conosco seu ponto de vista?

ID: É sobre crítica vinda das pessoas ao nosso redor, mas também de nós mesmos. As pessoas parecem esperar muito das outras, e tendemos adicionar a isso todas as expectativas dos outros. É assim que funciona e o problema reside no fato das pessoas irem muito além com isso. Hoje em dia muita gente senta atrás do computador e sai culpando tudo e todos, e o pior, acha isso super normal. Então, basicamente, nós quisemos apontar que você precisa ser você mesmo, não deixando as outras pessoas o manipularem. Se você quer algo e suas intenções são boas, então, tudo vai funcionar bem.

Mais uma vez Sascha Paeth produziu um disco do Epica e essa parceria já vem de muitos anos. O que ele traz de tão especial à música do Epica?

ID: Ele sabe, perfeitamente, o que a banda representa e está procurando. E, lógico, ele é grande produtor. Depois de todo período de composição e pré-produção é muito refrescante deixá-lo escutar as músicas. Como ele não as escutou antes, ele pode ouvi-las com a mente aberta, e mais, ele sempre vem com ótimas ideias para melhorar o som. Por outro lado, ele também nos dá total liberdade para fazer o que queremos, enquanto que outros produtores tentam mudar o som da banda.

Recentemente Yves Huts deixou a banda sendo substituído por Rob van der Loo. Eu suponho que tenha sido difícil ver um membro original ir embora, não é mesmo? E como chegaram ao Rob?

ID: Nunca é legal ver um amigo partir, mas respeitamos as decisões das pessoas. Muitos de nós tocamos com Rob, no Mayan. Então, foi óbvia a decisão de pedi-lo a substituir Yves. Rob é um músico muito talentoso e é também um cara muito bacana, o que é importantíssimo se você excursiona tanto como nós. Ele é muito profissional e a transição foi muito tranquila.

No dia 23 de março de 2013 Epica vai celebrar o décimo aniversário com um show especial intitulado, “Retrospect”. Você poderia nos dizer um pouco mais sobre o que se trata essa apresentação?

ID: Nós sentimos que era a hora de fazer algo especial. E o que é melhor que tocar nossas músicas com uma orquestra e um coral? Será um grande empreendimento, tanto que nós faremos tudo por nossa conta, sendo nada vinculado a promotor ou uma empresa. 100% Epica. É o supra-sumo de nossa carreira.

O show em si será um resumo de nossos álbuns, nós estamos trabalhando em todos os detalhes de modo a fazer dessa apresentação algo histórico. Nós todos estamos realmente animados com isso. E já existem pessoas de 20 países diferentes para assistir o show, e, com certeza, ficaremos felizes de ver alguns brasileiros lá!

Ruurd Woltring é um menino que tinha o sonho de gravar uma música com vocês, e, felizmente, esse sonho se realizou. A banda rearranjou e gravou a música de Ruurd. Como foi essa experiência para vocês? E como ela mudou o ponto de vista de vocês em relação às pessoas com certa incapacidade mental?

ID: Nós recebemos muitos pedidos para colaborar, mas, infelizmente, não podemos atender a todos. Porém, esse caso em particular se destacou do resto, porque a história de vida de Ruurd é muito legal. Ele escreve música com tanta paixão, do coração. Com isso, nós quisemos tornar o sonho dele em realidade.

O que a maioria das pessoas tende a esquecer é que pessoas com alguma incapacidade mental geralmente têm certos talentos que vão além das pessoas ditas normais. Ruur tem o ouvido muito bom e sabe, exatamente, o que quer musicalmente.

O Epica tem cinco discos de estúdio lançados; já tocou com uma grande orquestra; lançou trilha sonora do filme “Joyride”; tem ‘songbook’ dedicado à banda e tem fãs em todo mundo. O que falta o Epica alcançar?

ID: O mais importante para nós é continuar a escrever boas canções. Essa é a base para toda banda. Sem isso nós sequer nos atrevemos a pensar em outros objetivos.

Por outro lado, nós queremos sempre expandir nossos limites. O show “Restrospect” é uma dessas coisas. E agora é primeira vez que trabalhamos com um empresário, a fim de ver o quão longe as coisas podem ir. Existem muitas coisas que podem ser feitas e só queremos manter tudo interessante para nós e fãs.

Toda turnê vocês vêem ao Brasil e América do Sul. O que esse público representa para vocês?

ID: Seu continente sempre apoiou o Epica. Nós adoramos voltar para ao Brasil e América do Sul. É sempre bom ir para o palco e escutar o entusiasmo da galera daí. Realmente irresistível!

Quais os planos para o futuro?

ID: Depois dessa turnê, nós temos alguns shows em clubes pela Europa e depois iremos para América do Norte. Mais para o final do ano teremos shows na França e Reino Unido. No começo do ano que vem, nós estaremos ocupados com a “Retrospect”. Depois iremos para Austrália, Ásia e faremos os festivais de verão europeus. Nós nunca paramos! Enquanto isso, eu e Mark escreveremos as novas músicas, e esperamos ter um álbum novo no final de 2013 ou começo de 2014.

Obrigado pela entrevista, por favor, deixa uma mensagem para seus fãs.

ID: O prazer foi todo meu! Eu acabei de chegar ao Brasil, estou ansioso para vê-los o quanto antes. Rock on!

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