Confira A Entrevista Com A Banda Brasileira Axes Connection

Aliar décadas de experiência sob um olhar moderno parece ser o conceito da banda Axes Connection, já que o vocalista Márcio Machado; o guitarrista Marcos Machado (ex-Distraught); o baixista Magoo Wise (ex-The Wise, ex-Distraught, ex-Apocalypse) e o baterista Cristiano Hulk (ex-Vômitos e Náuseas, ex-Grosseria), são figuras tarimbadas e com larga experiência no meio musical.

O RockBizz, em parceria com a assessoria Som do Darma, bateu um papo intimista com Marcos e Márcio Machado, e dentre os tópicos abordados estão as influências do grupo, o conceito lírico das canções e do debute A Glimpse Of Illumination e, lógico, os planos futuros da banda. Então, prepare-se porque as próximas linhas estão impregnadas de experiência e esmero de quem vive para música de forma ininterrupta e absoluta.

Além dos dois irmãos que formam a banda, Marcos e Márcio Machado, o baixista Magoo Wise já tocou com vocês por muitos anos em outras bandas (The Wise, Distraught, etc). De que forma o som que fazem, um metal com características clássicas, porém ao mesmo tempo moderno e pesado, é reflexo dessas experiências anteriores e também do estilo e referências que o Vitor Machado tinha?

Marcos Machado: Como irmãos, escutávamos muitas coisas juntos desde cedo. Desde músicas mais clássicas como também músicas que classificávamos como algo mais inovador. O Vitor, como o mais velho entre nós, introduziu os primeiros LPs de rock e nos incentivou a aumentar a coleção. Debatíamos entre nós, principalmente sobre um estilo musical, com riffs em especial. Às vezes não concordávamos e isso era muito sadio. Líamos sobre críticas de álbuns, mas sempre valia o que nós sentíamos ao escutar a música. Como disse anteriormente, iniciando esta resposta, nossa coleção de LPs aumentou muito e sempre tivemos muitas bandas de diferentes estilos pra escutar. Isso formou o nosso estilo musical de certa forma.

Quando começamos a compor nossas próprias músicas, no início era complicado fazer algo original e ao mesmo tempo com qualidade. Eu diria que a persistência foi nos deixando melhores. O Vitor opinava o tempo inteiro quando eu começava a compor. Às vezes dava muito certo e às vezes não, porque era de conhecimento de todos que ele tinha um temperamento explosivo e difícil. Mas era, na maioria das vezes, a briga para obter o melhor da música.

Tínhamos muitos exemplos de músicas com qualidade a nossa volta, e igualmente exigíamos de nós mesmos sempre o melhor dentro do possível. O Magoo conviveu com isso no início de tudo e depois seguiu seu próprio caminho. Tivemos alguns momentos em que conseguimos juntar os três irmãos (Vitor, Márcio e eu) e foi muito produtivo, mas, como anteriormente citado, o temperamento do Vitor dificultou muito pra que seguíssemos mais tempo juntos. A maior parte das músicas do álbum foi composta por mim com a colaboração do Vitor.

Ao mesmo tempo em que ele era explosivo, tinha uma inteligência musical fora do comum. Parecia muitas vezes adivinhar qual o andamento e levada que iria querer para um riff que estava sendo criado no momento. Uma conexão difícil e que eu respeitava muito, e por isso relevava muito o seu temperamento, pois ele tinha uma conexão musical inexplicável até hoje pra mim. Muitos riffs que levei pra Distraught foram criados com ele em separado. Com a Distraught obtive uma bagagem ainda maior de experiência e estrada que me ajudaram muito a chegar ao resultado final de nosso álbum com o Axes Connection.

A banda nasceu a partir de você Marcos e do seu irmão Vitor Machado. Como você acabou de dizer, as composições são creditadas como sendo suas a partir de ideias de Vitor. Como exatamente elas nasceram considerando essa parceria?

Marcos: Existe uma curiosidade interessante para responder: certa vez eu estava meio brigado com o Vitor e resolvi montar várias batidas de bateria em um CD para treinar meus riffs. Sozinho! Então eu montei o esqueleto de muitas das músicas do álbum e após um tempo retomei com o Vitor a montagem final dessas músicas. Claro que com isso ele ajudou a arranjar e opinar sobre a ordem de um ou outro riff e o melhor ritmo a seguir.

Quando eu resolvi retomar o projeto, tive que rearranjar as músicas, criar solos, músicas novas, e o Márcio entrou no projeto pra me ajudar a terminar com chave de ouro tudo. Um detalhe muito peculiar sobre o Vitor é que ele sempre pareceu acreditar mais em nossa música e em mim do que eu mesmo. Um mês antes de falecer, e sem condições de poder tocar, ele me convidou pra retomarmos o projeto e entendi como uma ordem para retomar o projeto. Uma questão de honra seguir acreditando em nós mesmos como ele sempre acreditou.

Qual o conceito por trás do título A Glimpse Of Illumination? E qual sua ligação com a arte da capa?

Márcio Machado: Se trata da eterna luta por uma conexão mais intensa e verdadeira com Deus, sendo nós, seres humanos, tão falhos e suscetíveis de erro. Esse vislumbre de iluminação é o que buscamos, para estarmos em paz com Deus, com os outros e com tudo que nos cerca.

Marcos: Quanto à capa em si, partimos do princípio que queríamos uma capa que fugisse das capas tradicionais do estilo e nos inspiramos nas capas feitas pela Hipgnosis, empresa muito conhecida por capas do Pink Floyd, Scorpions e mais recentemente Audioslave. Uma capa que passasse uma mensagem diferente e com uma cara mais setentista.

Considerando o título do álbum e de algumas letras, é perceptível que elas tratam de questões psicológicas e/ou existenciais. O universo conceitual do Axes Connection é mesmo baseado na subjetividade?

Márcio: Trato de religião e espiritualidade nas letras. Com certeza também há algo de autobiográfico. Um detalhe interessante de ser mencionado: na época em que eu e o meu irmão começamos a estruturar o trabalho, estava estudando Judaísmo com um rabino ultra ortodoxo, o que refletiu diretamente nas letras. Depois de um tempo, resolvi tornar o que tinha escrito mais universal. E, só para esclarecer: sou católico praticante.

O quanto essas letras, e até mesmo as músicas, expressam ou refletem sobre a perda do irmão e companheiro de banda, Vitor Machado?

Marcos: Falando da música em si, existe um trecho que é pré-refrão e refrão que inserimos na música Journey To Forever, que foi uma composição criada pelo Vitor no violão. Achamos que seria uma forma de homenageá-lo e torná-lo de certa forma mais presente ainda no álbum.

Márcio: Boa parte do trabalho reflete a perda do nosso irmão, seja através de um sentimento de pesar em algumas vezes, seja em ter uma atitude positiva e combativa em relação à vida, em outras. E aqui me refiro ao combate espiritual também, um tema caro a todo cristão.

A morte é o maior enigma da vida. Parece contraditório, mas é fato que a maior preocupação que temos durante o viver é o morrer. Seja num primeiro ou segundo plano. As ciências e as religiões tentam, mas parece haver muito mais verdade nas experiências subjetivas de morte do que nas próprias teorias a respeito do assunto, carregadas de outros interesses. Mesmo que não tragam a verdade absoluta sobre a morte – se é que há – as experiências pessoais, de cada um de nós, com a morte, nos ensinam muita coisa sobre a vida! O que vocês aprenderam e que seria interessante compartilhar?

Marcos: O principal é o de seguir a sua vontade, seu sonho por mais difícil que seja. Claro que muitos já ouviram essa resposta clichê, mas seguir um sonho é muito difícil e, nos dias de hoje, mais ainda. A morte do Vitor nos ensinou isso. Acreditar em nós mesmos e seguir em frente fazendo o que gostamos de fazer: música! Não a mais rápida nem a mais pesada, mas a que nos represente e mostre quem somos. Com nossas influências presentes, mas com direção ao futuro ao mesmo tempo.

Márcio: O Vitor nunca teve medo de dizer o que achava de determinado assunto ou pessoa, sempre teve sinceridade total. Apesar de intempestivo e irascível, era alguém sempre preocupado com os outros, sem fingimento, absolutamente verdadeiro. Defendia sua família e seus amigos com uma garra que eu nunca vi, até hoje. Foi isso que eu aprendi com ele, a cultivar fidelidade a si mesmo, aos projetos e aos familiares, amigos e colegas de trabalho. É claro que eu procuro adaptar esses ensinamentos à minha realidade e à minha personalidade. O Vitor era um guerreiro, mostrou isso ao enfrentar a tudo e a todos, pela convicção de suas ideias e, no final da vida, ao enfrentar a sua doença, também foi um guerreiro.

Ser ou não ser? Apesar de o existencialismo ser tema recorrente no mundo das artes mesmo antes de Shakespeare, e do tema da morte ganhar sim alguns adeptos na poesia, pintura, cinema e teatro, na música o rock e o heavy metal parecem ser os protagonistas ao dialogar sobre esses temas com mais naturalidade. Há resistência por parte de outros segmentos musicais, especialmente se considerarmos os mais populares no Brasil como a música sertaneja, funk ou mesmo a MPB, que tendem a explorar, quase inerentemente, temas voltados ao romantismo (por vezes explicitamente sexual) ou frivolidades da vida cotidiana. Isso demonstra o caráter estritamente mercantilista desses segmentos musicais, que não tratam de assuntos que as grandes massas não querem pensar a respeito, como a morte, ou já se convencionou, ao rock e metal, também a um nível de mercado, tratar sobre morte e destruição?

Marcos: Eu acredito que o rock nasceu polêmico e sempre vai ser em boa parte assim. Não posso deixar de falar que existe boa e péssima música em todos os estilos e o rock e o metal não escapam desses exemplos. Hoje, vejo muito da juventude aceitando tudo como bom e ótimo e não parece existir um filtro ou alguém para dizer a eles que não precisamos achar tudo que está tocando realmente bom.

Mas voltando a pergunta, eu acredito que o rock e o metal se permitem falar mais abertamente de temas polêmicos e também assuntos que são pouco abordados e isso eu diria que é uma característica do rock/metal. Acho que devemos tentar nos preocupar com o conteúdo da letra de uma música. Ela tem que trazer alguma mensagem. É o meu ponto de vista pelo menos. Não adianta apenas inovar na música, mas em tudo que for possível inovar, tanto na letra como na arte.

Márcio: Existe uma cultura de morte em nossa sociedade, e artistas engajados nessa temática de autodestruição. Eu sou totalmente contra. Cristo é o caminho, a verdade e a vida.

A política é tema permanente entre a intelectualidade. Parece haver uma necessidade por política em qualquer obra artística para que ela seja bem vista por essa classe da sociedade. De fato é impossível vivermos em qualquer parte do planeta Terra alheios à questões políticas. O rock e o metal exploraram muito, e bem, o tema durante os anos 60, 70 e 80. Mas parece ter perdido essa conexão nos anos que se seguiram. Os temas existenciais e subjetivos parecem ter ocupado todo o espaço deixado pelos temas políticos e sociais. O Axes Connection não parece ser uma banda do tipo política, como estamos vendo até aqui. Falar sobre política perde um pouco de sua legitimidade (ou impacto) ao considerarmos a experiência humana sob um plano existencial mais amplo de vida e morte ou é o rock e metal que se tornaram reacionários, sendo partes de um grande mercado internacional?

Marcos: O rock e o metal tem liberdade pra falar de qualquer assunto e sempre o terão. Não existe uma regra a ser seguida. Hoje, estamos falando nas letras de um ponto de vista mais existencial, mas não quer dizer que mais adiante não possamos falar de política. O que interessa de verdade é ser sincero consigo mesmo. O público sempre vai reconhecer isso nas letras e músicas. O rock/metal sempre viveu ciclos de altos e baixos e nem por isso deixou de existir. Boa música com boas letras sempre vão ter seu espaço. Se hoje está mais difícil de ver não quer dizer que deixou de existir.

Márcio: Quem sabe não criamos, futuramente, uma obra temática, como o The Wall, que criticava o sistema de ensino britânico e os horrores da Segunda Guerra Mundial? Ao criar as letras para o álbum, me veio ao coração falar sobre assuntos mais espirituais, até por estar ainda abalado pela morte do Vitor. Ser político nas letras, com contundência, é possível, vide os exemplos do Pink Floyd, que eu citei acima e, aqui no Brasil, da Legião Urbana.

Tanto o Marcos como o Magoo já fizeram parte da Distraught que é uma das bandas mais relevantes do Rio Grande do Sul. O Magoo gravou com o grupo o disco Nervous System. Marcos ficou um longo tempo. Foram 15 anos com o Distraught, quatro álbuns e turnês pelo Brasil, Argentina e Uruguai, além de shows ao lado do Megadeth, Destruction, entre outros. No que se refere à maturidade artística e pessoal, quais foram os aprendizados que vocês puderem tirar dessa fase com o Distraught? O que evitar e o que repetir agora com o Axes Connection?

Marcos: Muita estrada e experiência são os principais aprendizados. Somos amigos e seremos sempre amigos. A Distraught foi uma grande família, mas, às vezes, precisamos respirar novos ares, e por isso resolvi sair. Quero tentar repetir sempre a preocupação com a busca da perfeição musical, a dedicação ao público, a preocupação em tentar oferecer o melhor possível. Isso a Distraught sempre me ensinou. Erros fazem parte do processo de qualquer banda. Tentando acertar, às vezes erramos e isso qualquer banda vai acabar fazendo.

Após o lançamento do disco vocês naturalmente pretendem cair na estrada. De que forma pretendem driblar as limitações no que se refere à circulação nacional de bandas de rock pesado autoral? Pretendem sair do país como fazem alguns grupos brasileiros?

Marcos: Não está fácil para nenhum setor economicamente falando e só piorou nos últimos anos. Vamos tentar fazer o possível para atingir o nosso público. Sair do país não está em nossos planos neste momento. Vamos dar um passo de cada vez, mas seguiremos firmes.

Para finalizar, deixe-nos, por favor, um vislumbre de iluminação.

Marcos: A busca pela verdade é uma busca pessoal e intransferível. Acredite em você, mesmo que às vezes possa parecer que nada está dando certo. Chegamos a algum lugar somente persistindo. Persista!
Márcio: Estabeleça uma conexão sincera com Deus. Ele conduzirá os teus passos, como está escrito no salmo 23: “Ele me guia por bons caminhos, por causa do seu nome. Embora eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei, pois junto a mim estás; teu bastão e teu cajado me deixam tranquilo”. Vivemos em um mundo de ilusão, em uma verdadeira Matrix. Procure se informar sobre quem é o príncipe deste mundo. Abra seus olhos espirituais, se volte para dentro de si, busque a Deus através da oração, e se engaje em ser do bem. A paz de Cristo a todos.

Mais Informações: www.facebook.com/axesconnection

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